quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Historia de Superação

Como fiquei algum tempo sem atualizar o blog, eu li alguns dos comentários, e fiquei interessada no post de uma anonima, pedindo para eu fala sobre historias de superação. Achei interessante, e decidi falar sobre isso!


Depoimento

Nasci com uma deficiencia física na perna direita, onde minha tíbia impede o crescimento normal da fíbula. Diminuindo desta forma o tamanho de minha perna, e dando uma má formação no meu tornozelo.
Aos três anos de idade (1979), o médico disse ao meu pai, que para fazer qualquer intervenção era necessário eu estar mais velha e com a ossatura mais desenvolvida, mas que com essa deficiencia (1 em cada 1.000.000 de crianças nascem com ela) era para os meus pais perderem a esperança de terem uma filha “normal”. E que nesse meio-tempo eu poderia ser submetida a sessões de fisioterapia ou algo recreativo que trabalhasse o alongamento para que minha coluna não sofresse danos severos pela desigualdade das pernas, pois haveria grande chance d’eu futuramente ter problemas de atrofiamento de membros inferiores, deslocamento de quadril, deformidades na coluna vertebral entre outros…
Quem aqui é mais velha, sabe o quanto os médicos antigamente assombravam sobre defeitos ortopédicos (se ainda hoje o fazem…)
Meu pai saiu direto da sala do médico e foi buscar uma instituição de fisioterapia. Chegando lá ele chorou. Pensando em como que ele ia colocar a filhinha risonha e feliz que andou com 8 meses, numa sala de tortura como aquela. Pensou, pensou e pensou. Saiu de lá e me levou para uma escola de dança que tinha na minha rua…
Ele tinha uma prima que era bailarina, e lembrava dela se alongando o tempo todo.
E sabia que sua filha não podia ouvir uma música que começava a dançar… Entrou na escola de ballet, e o que estava tendo?! Uma aula de baby class… Antes dele terminar de conversar com a recepcionista, ao darem por si, eu estava dentro da sala de aula, de meias (sim, eu tirei minhas botinhas ortopédicas!!!), e sentada de borboletinha com as outras meninas… rs
Meu pai disse que naquele momento seus olhos se encheram de lágrimas, e ele sentou lá na porta, pois a grana tava curta… Ganhei a bolsa da própria professora até que as coisas melhorassem para meu pai. Que saiu da escola de mãos dadas com a filha mais feliz que ele podia ter posto no mundo.
Ele me disse (hoje em dia) que tinha uma incerteza muito grande se realmente aquilo poderia ajudar a filhinha dele a não ficar cheia de deformidades no corpo.
Anos de estudo, dedicação e muito empenho. Minha professora era muito especial, ensinava-me o caminho normal da musculatura e eu ia adaptando meu corpo (naturalmente) para os exercícios acontecerem da forma como deveria ser!
Aos 6 anos usei meu primeiro tutu (ia ser a solista da minha turma!!!) – tem foto no meu album!!!
Aos 8 anos de idade coloquei minha primeira ponta (que minha mãe jateou de bronze… afe!!!)… Minha deficiencia não era notada em aulas nem no meu caminhar do dia a dia.
Não tinha desenvolvido nenhum absolutamente nenhum desvio de coluna, e a diferença entre as pernas parecia diminuir.
Era uma das alunas mais aplicadas pela paixão, pela busca da perfeição (precisava fazer dez vezes mais esforço para ~manter minha bacia na mesma altura, pés e joelhos alinhados…). Ganhei quase todas as ‘frentes’ nas coreografias e demi-solos e solos, mas não porque eu era apenas esforçada, mas sim porque me destacava entre as melhores.
Nesta época o mesmo médico entra em contato com meu pai e diz a ele que havia trazido de fora uma cirurgia específica para o meu caso e que era para retornarmos ao consultório. Fui com um bico enorrrrrrme, afinal, nem lembrava daquela deficiência, ela simplesmente não me incomodava.
No consultorio o médico passou todos os benefícios e todos os possíveis problemas da cirurgia: atrofiamento da perna operada, de 1 a 2anos de cadeira de rodas e parafusos na perna, depois mais 8 meses de reabilitação para voltar a andar… blá blá blá. Meus pais nada me perguntaram, e marcaram a cirurgia.
No dia anterior da cirurgia fui ao pediatra (com um bico enorrrrrrrrrrrrme) fazer os exames para ser liberada para a mesma, tudo em perfeitas condições. Essa cirurgia tinha que ser feita antes do periodo menstrual pois precisava contar com certeza com um período de pelo menos mais 3 anos de crescimento.
Antes de entrar para a sala de cirurgia, o check up de costume, e minha garganta estava lotada de pus. Eba! Não ia fazer a cirurgia. Marcaram para dali alguns meses e eu menstruei.
Meu pai chorou… achou que a única chance da minha vida não aconteceria mais, pois o médico falou um monte de besteiras para ele e repetiu toda a prosa de incapacidades e dependencia que eu teria minha vida inteira por causa de minha deficiencia caso não me submetesse àquela cirurgia.
Pouco sabia meu pai que a verdadeira chance ele já havia me dado… há 5 anos atrás!!!
Eu peguei uma birra enorme desse ortopedista. Porque ele tratava as pessoas daquele jeito?!
Aos 12 anos, dançando cupido cubano, fui indicada ao premio de bailarina revelação e melhor bailarina do festival Hommel & Ralph de Ballet Clássico, dividão américa latina.
Enviei um convite para o médico ir me assistir.
E gente eu ganhei as duas indicações. o prêmio foi meu.
E na saída do teatro, o médico me esparava e aos meus pais lá na porta com os olhos cheios de lágrimas dizendo que achava que era uma apresentação de “crianças especiais”, de crianças com defeitos ortopédicos… que ele jamais imaginava que era de “gente normal”, em lágrimas ele abraçou meu pai e pediu desculpas… e qdo olhou para mim, que estava explodindo em felicidade por todas as conquistas, eu só lhe fiz um pedido:”NUNCA TIRE A ESPERANÇA DE NINGUÉM. NUNCA MAIS. EU ERA CRIANÇA DEMAIS MAS MEUS PAIS NÃO. Mas ao mesmo tempo obrigada. Talvez se não tivesse sido as palavras ásperas do senhor, eu jamais estaria onde estou hoje!”.
E nunca mais o vi. Nem ouvi falar dele. Que apenas me entregou uma rosa e me beijou na testa…
Continuei no ballet até as 19/20 anos profisionalmente. Inclusive fui estagiaria do Ballet Nacional de Cuba, e participei como demi-solista em Dom Quixote como cupido!
Por causa da faculdade e da anorexia (sim.. o ballet assim como tudo na vida tem seu lado negro)…
Voltei aos 26 anos numa escolinha de bairro, com uma professorinha fraca… e acreditem ou não, obesa. Nessa mesma escola um tempo depois entrou um bailarino formado pela escola do Opera de Paris, e foi dar aulas lá. Me reapresentou o ballet profissional. Emagreci mais de 15kg. Dancei com ele Don quixote, Carnaval em Veneza, Fada Açucarada, e um pas de deux feito para mim…
Porém eu ainda sentia que as meninas que buscavam o ballet não tinham o mesmo nivel técnico, mas queriam demais fazer ballet, e para iniciantes adultos não havia especialização.
Os bailarinos de formação muitas vezes não acreditam que o adulto quer FORMAÇÃO independente do que farão com ela. Isso significa que querm ser levados a sério, assim como eu queria, e continuo querendo!
Desta forma busquei minha atualização como bailarina e professora, afinal formação tecnica é bem difícil de encontrarmos… e eu tenho! Além de ser gerontologa – estudar o evelhecimento (que acontece a partir dos 25 anos…! rs), o que me possibilita uma visão bem particular do campo anatomico, bio-mecanico e cinesiológico dos alunos adultos que entram em inha sala de aula.
Minhas aulas começaram a ganhar volume e cada vez mais especificidade.E hoje além de bailarina,  sou professora de ballet adulto do renomado Studio Ana Esmeralda, que além de respeitar meu trabalho, o incentiva e apoia.
Além de aulas de ballet com mos maestros Sasha Svetloff e Liliane Benevento, que me auxiliam na atualizao e estudo da metodologia vaganova, tenha a honra de ser aluna em clássico espanhol da maestra Ana Esmeralda, que me presenteou ano passado com o Solo “Encuentro” – um sincretismo do ballet clássico com o clássico espanhol, ao som da guitarra e do cante de Vicente Amigo, já premiado na Holanda.
Anualmente faço o Cuballet (afinal minha formação é cubana) e busco minha atualização metodológica também em cursos ministrados por grandes maestros nacionais e internacionais.
e sempre digo: NUNCA NUNCA NUNCA DESISTAM DE SEUS SONHOS.
AS PEDRAS NOS NOSSOS CAMINHOS SERVEM PARA NOS ATENTAR A ELE, PARA QUE PRESTEMOS ATENÇÃO NELE. E SIGAMOS FORTES EM FRENTE.
MIL BEIJOS NO CORAÇÃO DE CADA BAILARINA!
Essa sou eu aos 6anos… e com o primeiro tutu!!! Em casa indo para a apresentação!!!
Aos 6 anos - primeiro tutu
Aos 6 anos - primeiro tutu

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